O Cardinalito da Venezuela (Carduelis cucullata) por Magnani Pietro
Uma cruz para muitos, uma delícia para poucos. O Cardinalito da Venezuela corre nas minhas veias desde há uns 20 anos, quando visitei um criador. A sua forma, o forte contraste das suas cores, os seus movimentos de verdadeiro duende alado deixaram-me estupefacto. Nunca tinha visto nada semelhante com os meus canários, nem com silvestres, nem com exóticos africanos e australianos. A minha maravilhosa aventura começou com 4 casais de cardinalitos ancestrais, e tomei-o como uma terapia, porque havia sobrevivido a um transplante, e a melancolia e os maus pensamentos eram uma constante diária. O duende conseguiu distrair-me e não me fazer pensar demasiado: a exigência naqueles tempos em mantê-los sãos e para fazê-los criar, obrigaram-me a empenhar-me a fundo. Consegui criar cardinalitos durante o primeiro ano e foram sucedendo-se óptimos resultados em anos sucessivos. No ano de 1993 introduzi a mutação bruno, seguida da diluída e a ágata, e finalmente a isabela. Recentemente introduzi a mutação topázio, que se reproduz optimamente em 4 cepas distintas, e a tudo isto juntamos uma mutação que será fixada em breve. Conversando com outros criadores, foi-me dado conta que os resultados não são fruto da sorte, mas sim o resultado da aplicação e de uma dedicação ditada pela paixão. O amor por este pássaro peculiar não é suficiente: tudo deriva de um sistema de cria metódico, regulado e sobretudo que tudo isto esteja baseado na experiência, unida à informação científica correspondente aos exemplares que decidi conhecer, criar e admirar no seu melhor. Quem quiser criar ancestrais ou as mutações deste esplêndido passarinho, deve alojá-lo num espaço à parte, sozinho ou em companhia de outros spinus sul americanos, com os quais compartilhará as voadeiras, fazendo-lhes boa companhia, sem bater-se, também no período de cio. Não deverão estar em contacto com canários, exóticos africanos, etc., sob qualquer pretexto, já que a sua recente vida em cativeiro não permite a estes exemplares resistirem bem aos agentes patogénicos que estes possam transmitir. A aquisição dos reprodutores deve ser ou antes da muda ou, uma vez completada esta, nunca a meio do processo, porque neste período são muito susceptíveis às mudanças de temperatura e de humidade. As gaiolas devem ter pelo menos as dimensões de 90x40x40cm. Todavia, será melhor se forem de 120x40x40, com as paredes laterais em chapa galvanizada e com uma divisória interior. A luz deve ser natural e seguir o ciclo natural da estação. Com este sistema, os resultados são óptimos. Se quisermos adiantar a postura, é necessário utilizar luz artificial, com luzes fluorescentes americanas “Durotest-True Lite”. São lâmpadas que se podem adquirir em lojas especializadas de artigos de ornitologia. Os melhores resultados obter-se-ão num local onde a luz solar não interfira com a artificial. Ao inicio da estação antecipada (Novembro) deve-se ter o macho no cio, enquanto que a fêmea será colocada no cio um mês mais tarde. A iluminação deve passar de um mínimo de 10 h a 13 horas em 60 dias, com incrementos constantes e diários. Para além disso, deve manter-se estável durante todo o período de cria, e depois, no final da muda deve decrescer de igual modo e manter-se estável até à próxima temporada. Durante o período de reprodução, deve-se administrar aos reprodutores sementes cozidas ou germinadas duas vezes por dia, enquanto se junta “NEKTON S” no bebedouro 3 vezes por semana, juntamente com a meia dose aconselhada pela empresa produtora de vitamina “E”. O macho não tardará a fazer escutar o seu característico canto de cortejamento e a fêmea voará com pequenas palhinhas no bico. Não se deve fazer absolutamente nenhum tratamento nem antes e nem depois da postura com antibióticos ou outros medicamentos, o cardinalito não o suporta, e também não lhe faz falta. Se um indivíduo não está de boa saúde é inútil colocá-lo a criar, pois não obteremos bons resultados. As sementes cozidas ou germinadas junto com as vitaminas serão o suficiente para estimular convenientemente os indivíduos. A alimentação seca neste período deverá consistir numa boa mistura da melhor qualidade possível. A fórmula ideal consiste num pouco de alpista, ausência ou quase nada de negrilho e abundante perilla, leituga branca, leituga negra, endívia e uma panóplia de pequenas sementes silvestres. À parte, grit mineral e osso de choco, triturado ou inteiro. A temperatura mínima no período de repouso deve ser de 15º C, até chegar depois, no período de cio, gradualmente, como com a luz, a um máximo de 22/23ºC, e manter-se estável durante todo o período de reprodução. Faço notar que um cardinalito adulto pode suportar temperaturas de 30/31ºC num regime de baixa humidade. Para manter os indivíduos sãos e fortes, a humidade relativa deve ser constante e oscilará entre 50/60 com valores de ponta de 70 nos dias que antecedem e durante a eclosão dos ovos. Uma boa norma é servir-se de um desumidificador muito sensível, para que haja temperaturas que oscilem entre os 5ºC e os 35ºC (máximo), no modo automático. Já que o cardinalito dificilmente come no fundo da gaiola, aconselho que ponham o bebedouro da água, os recipientes de plástico transparente e qualquer outro recipiente para as sementes à altura dos poleiros mais altos, de modo que os pássaros não tenham problemas na hora de alimentar-se. O fundo da gaiola deverá estar provido de uma rede metálica. A reprodução dos indivíduos não apresenta nenhuma dificuldade em particular sempre e quando tivermos em conta alguns detalhes. Depois de ter metido na gaiola o casal, separado por uma divisória, observar-se-á se estão a portar-se adequadamente, e só quando o macho comece a cortejar a fêmea através das grades, procederemos à remoção da rede divisória. Existem machos que são muito agressivos, e que em busca da cópula podem depenar e ferir a Fêmea. Nestes casos separam-se novamente e procede-se à repetição da operação durante alguns dias. Se depois de tentativas repetidas, não se obtém nenhum resultado, é necessário mudar um dos membros do casal e repetir a fase de emparelhamento. Uma vez emparelhados, introduz-se o ninho de vime de uns 9/10 cm de diâmetro com suporte de ferro e os necessários materiais para a construção, compostos de: juta, sisal, fibra de coco, erva seca, fios de algodão e lã de no máximo 5cm, e também pequenos pedaços de algodão branco que não tenha sido tratado. A fêmea, às vezes também com a ajuda do macho, confeccionará em pouco tempo um bonito ninho. Chegado este ponto poremos à disposição da fêmea pêlo animal, para que possam rematar a finalização do interior. Os ovos, de cor branca com pontos de cor castanha, não tardarão a chegar. Depois de retirados e substituídos por ovos falsos, são reintroduzidos todos ao mesmo tempo, e serão incubados durante 12/13 dias. Aquando do nascimento, os filhotes são muito delicados, pelo que não deverão manipular-se sob qualquer pretexto. A fêmea será alimentada amorosamente pelo macho durante os primeiros 4/5 dias de vida , que por sua vez alimentará os pequenos filhotes, até que a fêmea sairá do ninho e ambos os membros do casal terminarão de criar a prole. Se o macho não ajudar a fêmea de nenhum modo, é melhor retirá-lo e deixar a fêmea encarregar-se de tudo. Antes de proceder ao anilhamento, é necessário assegurar-se que os pequenotes depositam as fezes na borda do ninho e que a fêmea já não limpa o fundo do mesmo; comprovado isto podemos anilhá-los tranquilamente, sem medo de que os filhotes sejam atirados fora do ninho, nas tentativas da fêmea para tirar-lhes a anilha. Nesta fase tão delicada, deve-se dar muita atenção à alimentação e à limpeza. Normalmente procede-se a duas alimentações por dia: a primeira de sementes cozidas misturadas com um pouco de papa e uma rodela de maçã pela manhã, e uma segunda alimentação de sementes germinadas misturadas com um pouco de papa e uma folha pequena de chicória à tarde. O germinado dá-se à tarde, porque é mais apetecível, chegando assim ao papo dos filhotes para que passem a noite sem ter fome. Quando despontarem as primeiras penas, pode-se juntar, à ração diária, meio biscoito para ornitologia, ou melhor, meio biscoito para uso humano (assegure-se que contém ovos frescos e nada de gorduras). Aos 14/16 dias os filhotes estimulam a mãe que cada vez vai menos ao ninho para alimentá-los, saindo do ninho pouco a pouco para serem alimentados, e finalmente serão independentes entre os 26/30 dias de vida. Esta alimentação deve ser mantida pelo menos até aos 40 dias de vida, quando a substituiremos progressivamente por sementes secas e espigas de painço (ITALIANO) e três vezes por semana sementes germinadas misturadas com a pasta. Na primavera/verão qualquer planta silvestre, como o dente de leão, panasco (dactylis glomerata) a poa, erva-vinagreira (rumex acetosa), etc, serão devoradas rapidamente, sendo muito benéficas para a saúde e proporcionado uma coloração reluzente aos nossos passarinhos. Relativamente às sementes cultivadas, as mais apetecíveis são a alface, a chicória, a escarola, o milho, o painço e a perilla. Quem tiver a possibilidade de colectar bela da noite (Oenothera biennis) e administrá-la fresca, sem folhas e com a cápsula semiaberta, verá o cardinalito tornar-se literalmente louco por esta semente, que em doses moderadas exercem um grande benefício sobre o fígado e o intestino das aves, graças à sua propriedade anti-espasmódica e adstringente. A bela da noite, suas sementes frescas e suas raízes são aconselháveis para as enterites, gastroenterites e intoxicações em geral, sempre e quando não abusarmos dela. Em casos de stress, superlotação, indivíduos agressivos que não deixam comer os mais débeis, humidade excessiva ou temperaturas muito altas, podem apresentar-se casos de abdómen avermelhado e inchado, e deve-se ter a ave em questão debaixo de controlo, separada numa gaiola individual, e administrar-lhe (esb3 30%) em dose de 1gr/litro na água de bebida, na qual se dilui 3gr/litro de (Newton Q) durante 5 dias seguidos; dois dias de descanso com água limpa e outros 5 dias de tratamento. Este tratamento deu resultados muito positivos no meu aviário. A ave ou ou aves em questão devem ter uma alimentação exclusivamente seca, sem negrilho e pouca perilla. Quem toma contacto pela primeira vez com este maravilhoso pássaro, pode fracassar nalguma coisa, mas é importante que não se desanime e, antes de abandonar tudo, trate de encontrar a causa, corrija-a e tente de novo. Só assim adquiriremos a experiência necessária para uma criação correcta e satisfatória.
Tradução/Adaptação: Paulo Carquejo - O Passaril Real A tradução deste artigo foi autorizada pelo respectivo autor e é expressamente proibida qualquer reprodução sem autorização expressa do Sr. Magnani (www.magnanicardinalini.it)